quarta-feira, março 22, 2006

Porque ontem dia 21 de Março foi o dia da poesia e eu não postei nada


Rui e o protesto poético

"Ainda estou em jejum - não tens um cigarro?", pergunta Rui Faustino, um ramo de margaridas na mão e a barba por fazer. Rui é poeta. E, em vésperas do Dia Mundial da Poesia, enviou um comunicado à imprensa Rui prometia um "Protesto poético" no Largo de Camões, em Lisboa, e garantia desfraldar ao vento "poemas em telas de vários metros em redor da estátua de Camões". À hora marcada, as telas e os poemas estão lá. Os jornalistas também. Só não está o poeta. Há quem se farte de esperar e vá embora. E, já depois disso, o poeta lá aparece. Em jejum. Rui Faustino, nascido em 1974, conta a sua história "Há cerca de dois anos, apaixonei-me por uma Inês e foi nessa altura que comecei a escrever versos". A Inês estudava na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa. "Fingia que tirava uma tese de mestrado", confessa. Foi até lá e encheu as paredes da Faculdade com versos inspirados na sua musa. "Não conquistei a Inês, mas conquistei o Eduardo Prado Coelho, que escreveu uma crónica tentando descrever um retrato-robô do autor dos versos - ninguém sabia quem tinha feito aquilo", diz.Depois disso, fez uma série de instalações poéticas mas nunca editou um livro. Rui protesta "Já fui com os meus manuscritos a uma dúzia de editoras mas depois fartei-me: percebes que os gajos nem lêem aquilo..." "A um jovem poeta, a única coisa que lhe resta é escrever para a gaveta", acusa. "Mas desde o princípio que me recusei a escrever para a gaveta e é por isso que faço estas instalações: posso não ter obra publicada mas isso não significa que não seja lida". Rui Faustino aponta para o topo dos postes de iluminação à nossa frente. É lá que estão expostas as telas com os poemas. E diz "Consegui chegar ali acima graças à colaboração da Câmarde Lisboa: apareceram aqui com uma grua e eu é que estive a montar - aquilo tinha uma espécie de joystick". E, afinal, o que é feito da Inês? "Foi trágico", lamenta. "Ela enrolou-se com o guitarrista da sua banda rock - ela era a vocalista". Depois disso, "tentei a minha sorte com a Sofia das Estrelas - mas também não resultou". E agora? "Agora estou a escrever as "Marionetas do horóscopo", confessa. Ele assevera"É uma história baseada em conceitos astrológicos e na qual me apaixono por um mapa astral". Rui Faustino acrescenta: "Já que não funciona com estas miúdas de carne e osso, resolvi tratar do assunto de uma forma científica: estou a elaborar um mapa astral perfeito para que se encaixe no meu mapa astral".

Cristiano Pereira in JN edição de 22/03/06

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